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Bio

O artista Vinícius Silva de Almeida nasceu no ano de 1983, vive e trabalha em Salvador. Graduado em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, é um artista inquieto. Seu interesse pelas ciências exatas o fez desenvolver uma linguagem própria que alia pensamento científico e práticas manuais de baixa tecnologia à proposições de poéticas visuais poderosas, que, além de estabelecer diálogos com o espectador, traduz a memória e as experiências do artista. Seu processo é uma constante investigação de possibilidades estéticas e conceituais do cotidiano.
  • Solange Farkas
    Curadora e diretora da Associação Cultural SESC VideoBrasil
    São Paulo, SP

    Quando, em 2007, aceitei o convite de Márcio Meirelles para dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia, senti-me atraída, entre tantas possibilidades, pelo fato de poder conhecer e trabalhar com os artistas locais, e principalmente com os jovens artistas em início de carreira. Além disso, tinha em mente a intenção de promover o intercâmbio cultural e trazer ao público baiano a produção contemporânea do Brasil e do mundo, o que vem ocorrendo, com a parceria da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, desde o início da minha gestão.

    Contemplado com o Prêmio de Residência Artística no exterior, na última edição do Salão da Bahia, promovido anualmente pelo MAM-Ba, Vinícius S.A. foi um dos artistas locais que mais me impressionaram, pela delicadeza e contundência de sua poética, construída a partir de heranças familiares e coletivas. Híbrido de artista e inventor, que promove um profícuo diálogo entre diferentes técnicas e áreas de pensamento, Vinícius constrói máquinas lúdicas e parafernálias poéticas poderosas, extraindo do lixo e caos da sociedade contemporânea as esperanças de um homem que ainda lembra, e segue, confiante.

  • Alejandra Muñoz
    Doutora em Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

    A expressão “sofrimento da seca” parecia quase um pleonasmo. Inevitavelmente, à impotência diante dessa realidade perpétua (e perpetuada), se seguia a tristeza ante a imagem do sertanejo esquecido num cenário no qual, estrutural e sistematicamente, não havia outra opção além da sobrevivência. Nesse contexto, qualquer poesia parecia leviandade; entrever beleza seria uma heresia; falar de arte implicaria uma afronta. Então, as “Lágrimas de São Pedro” emergem como possibilidade miraculosa de reversão desse conceito quase tautológico que tínhamos do Sertão.

    Entrar na instalação é como entrar no espelho de Alice, que em sua surrealidade nos faz mergulhar na possibilidade de subverter o inimaginável. É a água da chuva que cai do céu para molhar o chão do qual, talvez, possa nascer o feijão. Cada gota é um tesouro preservado na fragilidade de finos bulbos descartados como lixo no destino derradeiro do consumo contemporâneo. Aquilo que é inútil para uns vira receptáculo do essencial para outros: de berços de luz elétrica a pequenos depósitos de água, energia fundamental para a terra germinar. O sonoro lamento que comove o início do percurso se transforma em êxtase inefável diante da nova luz vital; a imagem hostil da terra rachada, em sensação aconchegante da água retida no ar.

    Mas, se, numa primeira fruição da instalação de Vinicius S/A, somos levados, inexoravelmente, a enfrentar um tema que circunscreveria a obra em uma abrangência regional, numa apreciação mais demorada, percebemos que “Lágrimas de São Pedro” é, antes de tudo, um discurso sobre o tempo como valor universal. Porque a temporalidade humana é, talvez, a principal fonte de nossa infelicidade. Por um lado, almejamos coisas que não temos, desejamos ser algo que não somos, ou sonhamos alcançar metas inatingíveis, imersos em neurótica futuridade. De outro lado, sentimos nostalgia daquilo que tivemos, idealizamos momentos passados, ou buscamos escape existencial refugiados em pseudoglórias pretéritas. O presente é um lapso imperfeito entre eternos ontens e esperados amanhãs. Para o urbanóide rodeado de wi-fires, deliveries e high-definitions, o hoje, o agora, o instante, quase não tem valor, exceto pelo que foi ou pelo que projeta ser. A essência de “Lágrimas de São Pedro” é, precisamente, expor a relevância do presente que ultrapassa a acepção meramente temporal e adquire um sentido de dádiva: o presente é um presente, uma graça divina, uma recompensa efêmera ao eterno sofrimento da existência. As lâmpadas de vidro constituem uma metáfora da abissal diferença entre quem tem tudo e quem tem apenas o agora. E o choro de São Pedro é a única saída para o fim do choro dos sertanejos, para quem o ontem não é lembrança e o amanhã não é promessa de algo mudar. Temos o privilégio de entrar na chuva, mas não podemos ainda sentir o molhar. Estamos situados em uma fresta de tempo suspenso onde o presente é um instante de eternidade.

  • Dilson Midlej
    Mestre em Artes Visuais e Diretor de Artes Visuais da Fundação Cultural do Estado da Bahia

    “Lágrimas de São Pedro”, de Vinicius S. A., é um manifesto poético-visual contemporâneo do direito à vida, da fé e da esperança do brasileiro e, em particular, do nordestino. Do direito à vida, pois ela advém e é sustentada pela água. Da fé, pois a crença em uma vida melhor alimenta e irriga o espírito. Da esperança, por ser ela cristalina como a água que decompõe a luz solar em arco-íris, esperança como filtro da pureza e da beleza da existência humana. De forte impacto visual, esta instalação é também de grande alcance simbólico por sintetizar e interligar as forças da natureza e do imaginário humano.

  • Luiz Alberto Ribeiro Freire
    PhD em História da Arte UP – Portugal e Professor da Escola de Belas Artes da UFBA

    A instalação de Vinicius S.A, intitulada “Lágrimas de São Pedro”, que a Caixa Cultural Salvador exibe surpreende pela conjunção de estética e conceituação, binômio um tanto raro na arte contemporânea. Deriva de um pequeno ensaio ganhador de menção honrosa no Salão Regional de Feira de Santana em 2005.

    A primeira vista as lâmpadas transparentes com água no bojo, penduradas por fios de nylon, em vários níveis, a curto espaço umas das outras, sob o efeito da luz artificial  gradativa, nos causa uma sensação estética intensa.

    É belo e fascinante o efeito, sugere pingentes de cristal e até certo ponto se aproxima de composições decorativas, sem qualquer teor pejorativo no uso deste termo. Quando relacionamos o título à instalação, tudo ganha uma outra dimensão, pois aquele conjunto de lâmpadas que nos atraia pela translucidez, passa a significar a água tão querida, esperada e rogada pelos sertanejos do nordeste brasileiro e que demora de vir, ou quando vem não é suficiente para dar de beber e prover o alimento das gentes e dos animais.

    O flagelo da seca e da fome passa a interferir na leitura e fruição da manifestação artística sem que as imagens comuns e literais apareçam, e, repentinamente aquilo que nos embevecia pela luz cintilante, nos remete a uma problemática social tão conhecida e divulgada, e jamais enfrentada pelos poderes públicos.

    Sutil e delicada forma de tratar artisticamente o problema, evitando recorrer as cansadas e explícitas imagens que estamos acostumados a ver e lançando mão de elementos aparentemente antagônicos, que encantam, penalizam e revoltam.

    Nessa edição da Caixa Cultural, o artista nos convida a penetrar nesse espaço onírico e experimentar a visão de dentro, como em uma mina de cristal; a perceber as nuances do colorido que a refração da luz provoca nos pingentes. Reserva-nos, em um ambiente distinto, imagens projetadas por elementares projetores, semelhantes aqueles com os quais brincávamos na infância (uma caixa de sapato, com uma lâmpada transparente cheia de água).

    A arte baiana é repleta de poéticas que abordam a problemática da seca no sertão, na fotografia o tema é recorrente, mas foi na arte das décadas de 1960 e 1970, que artistas como Juraci Dórea, Juarez Paraíso e principalmente o ETSEDRON exploraram com  muita competência o potencial expressivo de materiais próprios da natureza e da cultura sertaneja: Juraci deu um sentido estético ao coro curtido (sola) e varas; Juarez re-significou a cabaça, unindo o litoral ao sertão, a cabaça ao búzio para falar de morte e vida. O ETSEDRON desafiou a ditadura para apresentar aos brasileiros e ao mundo a vida humana que o descaso político e econômico forjaram, e o fez com irreverência, pretendendo denúncia, vivência, envolvimento, choque e também apresentar a riqueza estética da pobreza.

    Vinícius acrescenta a essa fortuna poética, outra proposta, baseada na lâmpada esvaziada da sua função utilitária, minimamente transformada, tornada metáfora, recheada de conceito e primordial para o intercurso que enriquece os discursos. Dessa habilidade o sertão está repleto, onde uma lâmpada, que não serve para iluminar, por não haver luz elétrica, serve como recipiente para o querosene que alimenta a chama.

    Por fim Vinicius fala uma linguagem universal, pois a falta de água potável já é um problema no mundo e se agravará mais ainda com a crescente poluição, desmatamento e exaustão dos mananciais aqüíferos. Flagelos que garantirão longevidade ao impacto que a criação de Vinicius pretende e consegue causar no fruidor, e que pensamos ser o principal desígnio da arte.

  • Marepe
    Artista Visual
    Santo Antônio de Jesus, BA

    Lágrimas de São Pedro, além de se consciência de reaproveitar o que é descartado pela maioria, dando outro sentido ao que foi produzido industrialmente, revela um artista preocupado com o que está à sua volta, afirmando sua cultura e poetizando as aflições do seu povo, dizendo em outras “imagens/palavras” de onde vem e para que veio.

    Vinícius é independente, um artista que gosta da prática: do exercício intuitivo da artezania, da montagem minunciosa, do resultado final. Na cabeça de Vinícius deve chover inúmeras idéias, como lâmpadas que iluminam seu próprio caminho.

  • Nadja Vladi
    Docente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

    Gostas de Chuva

    Já pelo título dá para relacionar a exposição “Lágrimas de São Pedro – Acalento ao Sertão Nordestino”, do artista visual baiano Vinícius S. A., 24 anos, em cartaz no espaço Caixa Cultural Salvador, com a chuva, a seca e o sertão. Mas nada é tão óbvio quanto aparentemente pode sugerir. Na entrada da instalação a primeira visão é de uma imagem estática de uma mulher negra de costas com uma lata d’água na cabeça. A imagem é projetada por uma caixinha de madeira rústica, sem pretensão de requinte, feita pelo próprio artista. Na seqüência, há uma projeção onde imagens alternadas que demonstram o sofrimento da terra com a falta de chuva contrastando com a vitalidade dela úmida. Isso tudo, desde o início, sob o som de um canto, tipo ladainha, que clama: “nem de fome nem de sede, matar seus filhos não”. Até então nada de surpreendente ou extraordinário, apenas uma introdução do melhor que está por vir: uma montagem que encanta o olhar e emociona facilmente até o espectador mais desatento. O impacto estético é sentido quando se cruza com quatro mil lâmpadas cuidadosamente penduradas, com uma variação de altura que aparenta ser milimetricamente estudada. As lâmpadas possuem a mesma medida de água e junto a uma luz certeira produzem um efeito devastador. A sensação que se tem é de gotas de chuva vistas com uma lente de aumento. Fora o aspecto emotivador dessa instalação, “Lágrimas de São Pedro” possui uma perfeita junção de poética e técnica da transformação de um objeto trivial num elemento plástico e comovente. Um bom início para Vinícius S.A em um novo contexto da arte contemporânea baiana que tem sido movimentada com mais força com a revitalização de espaços expositivos na capital e no interior do Estado. A idéia da instalação de ”Lágrimas de São Pedro“ surgiu de experiências autobiográficas de Vinícius. Na infância, o artista passava férias na cidade de Ubiraitá, no interior da Bahia. Ele transformou suas memórias em uma montagem que possibilita a cada espectador sentir a beleza da chuva quando ela é muito esperada.

Textos

Exposições individuais

2018
NEOPANÓPTICO

CAIXA CULTURAL, SÃO PAULO-SP

2014
FLUIDOS

ECOMUSEU DE ITAIPU, FOZ DO IGUAÇU-PR

2011
VESTÍGIOS MATERIAIS

GALERIA ACBEU, SALVADOR-BA

LÁGRIMAS DE SÃO PEDRO | exposição itinerante
2019
SESC, Ribeirão Preto-SP
2018
Caixa Cultura, Fortaleza-CE
2016
SESC Vila Mariana, São Paulo-SP
2015
Campinas-SP
Bauru-SP
Rio Claro-SP
Itapetininga-SP
2014
Light Fair, Las Vegas-EUA
LuminallePalmegarten, Frankfurt-Alemanha
Ecomuseu de Itaipu, Foz do Iguaçu-PR
2013
Centro Cultural dos Correios, Juiz de Fora-MG
Centro Cultural dos Correios, Recife-PE
Caixa Cultural, Rio de Janeiro-RJ
2012
SESC, Araraquara-SP
2010
Caixa Cultural, São Paulo-SP
Caixa Cultural, Curitiba-PR
2009
Caixa Cultural, Brasília-DF
2008
Caixa Cultural, Salvador-BA
2005
Centro de Cultura Amélio Amorim, Feira de Santana-BA

Exposições coletivas

2022
Utopias e Distopias – Museu de Arte Moderna da Bahia
2021
SP Arte Preview – Paulo Darzé Galeria

Exposição do acervo – Paulo Darzé Galeria

2019
Vértice – Museu de Arte Moderna da Bahia
2017
Ready Made in Brazil – Centro Cultural FIESP, São Paulo-SP

Pertencentes – Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-BA

2014
Bahia Contemporânea Bahia – Roberto Alban Galeria de Arte, Salvador-BA

Arte de Passagem – Galeria Casa de Castro Alves, Salvador-BA

2013
50 Anos de Arte na Bahia – Caixa Cultural, Salvador-BA

Aproximações Contemporâneas – Roberto Alban Galeria de Arte, Salvador-BA

2012
Circuito das Artes – Galeria ACBEU, Salvador-BA

Paraconsistente – Galeria ICBA, Salvador-BA
Escultura Nova – Galeria ACBEU, Salvador-BA

2011
Atelier Coletivo Visio – PAC-UFBA, Salvador-BA
2010
Opnyon – Galeria do Conselho, Salvador-BA
2009
Circuito das Artes – Galeria ACBEU, Salvador-BA

+B Inspiração Brasil – Arena Bureaus

2008
Sala Aberta – Galeria G.Buffone, Salvador-BA

Atelier Livre do Aluno – Galeria ACBEU, Salvador-BA
EBA 130 Anos / Ala Contemporânea – ICBA, Salvador-BA

2008
Afetos Roubados no Tempo – Caixa Cultural, Salvador-BA
2007
Afetos Roubados no Tempo – ICBA, Salvador-BA
2006
DesForma – Galeria da Cidade, Salvador-BA

Afetos Roubados no Tempo – Galeria Capibaribe, Recife-PE

Salões e Bienais

2008
150 Salão da Bahia – Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-BA
2006
VIII Bienal do Recôncavo – São Félix-BA
2005
Salão Regional das Artes Plásticas da Bahia – Feira de Santana-BA

Arte/Cidade

2013
Panóptico
2011
Teias
2007
Alçapão
2004
0,1% do Mato da EBA

Arte/Cidade

2017
Catálogo Ready Made in Brazil – Daniel Rangel, CCFIESP
2016
Escultura Contemporânea no Brasil – Marcelo Campos, Caramuê Editora
2013
50 Anos de Arte na Bahia – Matilde Mattos, Caramuê Editora
2012
Água Reflexos da Arte na Bahia – Matilde Mattos, Caramuê Editora
2011
30 Contemporâneos Brasileiros – Enock Sacramento, Alexa Cultural
2010
Catálogo de Exposição Lágrima de São Pedro
2009
Catálogo 150 Salão da Bahia – Museu de Arte

Prêmios

2008
Prêmio de Residência Artística Internacional – 150 Salão da Bahia – Museu de Arte Moderna da Bahia
2006
Menção Honrosa – VIII Bienal do Recôncavo – São Felix-BA
2005
Destaque Especial – Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia – Feira de Santana-BA

Acervo

2022
Museu de Arte Moderna da Bahia
2010
Galeria ACBEU – Instituto Cultural Brasil-EUA
2008
Escola de Belas Artes – Universidade Federal da Bahia

Residências

2013
Kulturamt – Secretaria de Cultura do Estado de Frankfurt – Alemanha
2010
Vrije Academie Werkplaats Voor Beeldende Kunsten – Den Haag, Holanda